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sábado, 5 de julho de 2008

Especial: Temperatura Global

Nos últimos cem anos, a Terra ficou 0,7º C mais quente. Parece pouco, mas esse aquecimento já está alterando o clima em todo o planeta, causando derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, furacões mais intensos, enchentes e secas cada vez mais fortes. Caso medidas drásticas não sejam tomadas para controlar o aquecimento global, o planeta enfrentará tempos muito difíceis. A temperatura irá aumentar mais que 2º C acima dos níveis pré-industriais, com riscos de extinção em massa, colapso dos ecossistemas, falta de alimentos, escassez de água e grandes prejuízos econômicos.
Este é certamente um dos temas mais discutidos pelos povos nos últimos tempos. As mudanças climáticas são analisadas tanto pelos seus conhecedores naturais, a gente simples do campo, como por renomados cientistas em todo o mundo. De fato, bem poucas pessoas hoje em dia ainda diriam não se terem surpreendido alguma vez com as mudanças do clima, tenham sido elas bruscas ou espaçadas no tempo. Infelizmente, quase ninguém tomou isso como um sinal claro das transformações por que passa a Terra em nossa época.
Sob qualquer prisma que se observe, as condições climáticas apresentam grandes extremos de variação no século XX. O registro das onze temperaturas mais altas observadas em dez diferentes regiões do planeta, da África ao Pólo Sul, mostram que dois recordes absolutos aconteceram em fins do século passado; os outros nove recordes ocorreram no nosso século. Já o registro das mais baixas temperaturas, monitoradas em onze diferentes regiões do planeta, indicam que todos os recordes ocorreram no nosso século.
A Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente patrocinaram, em 1988, um evento científico de âmbito mundial denominado "Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática" (IPCC), que reuniu 2.500 pesquisadores de todo o mundo. Foram apresentados mais de dois mil trabalhos científicos que, analisados e resumidos, deram origem a dois volumosos relatórios, publicados em fins de 1992. Abaixo, as principais conclusões desses cientistas sobre as mudanças climáticas e sua confrontação com alguns fenômenos observados ultimamente:
1. Tem-se produzido um aumento real, ainda que irregular, da temperatura na superfície do planeta desde o final do século XIX.
2. Tem havido um sensível retrocesso, ainda que irregular, da maioria das geleiras de montanha no mesmo período.
3. A precipitação pluviométrica tem variado enormemente na África subsaariana em escalas de tempo decenais.
4. Durante o último século, a precipitação aumentou progressivamente na ex-União Soviética.
5. Desde 1950 vem-se observando nos Estados Unidos um aumento constante de várias unidades percentuais na nebulosidade.
As conclusões a respeito das causas disso são muito restritas. De uma maneira geral atribuem eles esse aquecimento global apenas ao efeito estufa, supostamente causado em sua maior parte pela ação do homem na natureza.
O ser humano é, de fato, pródigo em poluir o meio ambiente e destruir a natureza. Contudo, as alterações climáticas que ora presenciamos e que nos próximos anos aumentarão ainda mais têm uma causa muito mais profunda, além do efeito imediato da ação nociva do ser humano na natureza.
A humanidade recebe de volta na época de hoje, de forma condensada, o retorno de tudo quanto ela gerou de destruição ao longo de milênios. Também os crimes contra a natureza perpetrados no passado não lhe ficaram impunes. Estes retornam agora ao ponto de partida, seja para um povo, uma comunidade ou uma pessoa. Serão atingidos na forma e na intensidade correspondentes à sua parcela de contribuição no crime praticado outrora. Não importa a época ou o local. Aquilo que até hoje ainda não havia sido remido, retorna inexoravelmente ao ponto do qual se originou.
Assim, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, fenômeno conhecido como "El Niño" e observado pela primeira vez no século XVIII, provoca alterações climáticas em escala mundial. Secas severíssimas em certas regiões e inundações devastadoras em outras.
Só com muita imaginação poder-se-ia atribuir à ação humana esse aquecimento localizado das águas do Oceano Pacífico. Um aquecimento cujas principais conseqüências são as seguintes: alteração da vida marinha na costa oeste dos EUA, Canadá e litoral do Peru; aumento de chuvas no sul da América do Sul e sudoeste dos EUA; secas no Nordeste brasileiro, centro da África, Sudeste Asiático e América Central; tempestades tropicais no centro do Pacífico. Estima-se que o El Niño ocorrido nos anos de 1982 e 1983 tenha sido responsável por cerca de duas mil mortes no mundo e prejuízos da ordem de US$ 13 bilhões.
Já se tentou estabelecer que o El Niño aconteceria em ciclos determinados de tempo. Alguns falaram em um ciclo de sete anos, outros de cinco e até de três anos. Todas essas conjecturas porém caíram por terra a partir de 1990, quando o El Niño passou a ocorrer todos os anos.
Alguns cientistas ainda têm a esperança de que o El Niño não tenha vindo para ficar. Jerry Bell, meteorologista do Centro de Análises Climáticas do National Weather Service dos EUA, é um deles: "Se acontecesse, seria uma catástrofe, já que haveria alterações no clima e na temperatura do mundo todo." Pelo sim pelo não, desde o final dos anos 80 uma rede de 69 bóias espalhadas pelo Pacífico, batizadas de TAO (Tropical Array Ocean), registra diariamente a temperatura do oceano…
Talvez seja útil descrever aqui com mais detalhes os efeitos do El Niño de 1982-1983.
"Em fins de setembro de 1982, a temperatura da superfície do mar aumentou 4°C em 24 horas no litoral do Peru, próximo à cidade de Paita." [Obs.: Nessas 24 horas a temperatura passou de 16°C para 20°C, três semanas depois a temperatura estava em 22°C e após dois meses alcançou 24°C.]
Em 1995 o El Niño finalmente deixou de atuar, e os cientistas começaram a ficar preocupados com a ocorrência de uma causa inversa da que origina o El Niño: o resfriamento das águas do oceano Pacífico na linha equatorial. Esta situação já havia sido observada em outras ocasiões e recebeu o nome não muito original de "La Niña". A grande estiagem que atingiu o sul do continente americano naquela época foi atribuída a esse fenômeno. No Brasil, o Estado do Rio Grande do Sul enfrentou na ocasião a pior seca dos últimos nove anos, enquanto que na Argentina a temperatura oscilou em torno dos 40ºC.
A perplexidade em relação a esses recordes sucessivos durou apenas até o inverno de 1997, quando a cidade de São Paulo registrou 34 graus. No início de setembro, a umidade na capital paulista baixou para 15%, valor considerado crítico pela Organização Mundial da Saúde. O mês de janeiro de 1998 foi o mais quente dos últimos 42 anos na capital paulista.
Por desconhecer as causas profundas das alterações climáticas em nossa época, os cientistas procuram a todo custo descobrir as causas imediatas, que para eles são as únicas que entram em consideração. Mas mesmo em relação a estas eles não entram num acordo. Não há um consenso, por exemplo, entre as causas imediatas das enchentes e inundações que atingiram a Europa em janeiro de 1995. Alguns cientistas acham que elas foram provocadas pelo El Niño; outros, pelo efeito estufa...Em março de 1997 as águas do Pacífico próximas à costa peruana começaram a esquentar novamente. Desmentindo a fama de só aparecer nos finais de ano, o El Niño de 1997 apresentava, já no mês de abril, uma massa de água aquecida de 14 milhões de quilômetros quadrados. Pouco tempo depois, as fotos de satélite mostravam uma ferida vermelha de 10 mil quilômetros de extensão por 2 mil de largura, com uma profundidade estimada de 300 metros. Era o maior El Niño já visto até então...
Em setembro de 1997, o El Niño dava início à maior seca já registrada no sudeste asiático em 50 anos. Na Austrália, em dezembro daquele ano, a seca ajudava a manter 400 focos simultâneos de incêndio no país.

No início de 1998 já se debitava na conta do fenômeno alguns números significativos:

  • A maior inundação em 40 anos a atingir a Etiópia, Quênia e Somália provocava a morte de 2 mil pessoas (número igual ao provocado em todo o mundo pelo El Niño de 82/83) e deixava cerca de 800 mil desabrigados.
  • Secas severíssimas atingiram a Indonésia (que ficou encoberta pela fumaça dos incêndios florestais), China (a maior em 50 anos), Filipinas e Papua- Nova Guiné (também a maior em 50 anos, com saldo preliminar de 70 mortes).
  • O Chile sofreu as maiores tempestades de chuva e neve dos últimos cem anos, e a maior parte do território foi declarada "zona de catástrofe". Choveu até no deserto de Atacama, a região mais seca do mundo (índice pluviométrico anual menor que 0,1 mm). Na capital, Santiago, choveu num dia o volume pluviométrico esperado para todo o ano. Pelo menos 20 pessoas morreram e 51 mil casas foram destruídas no país.
  • O Equador registrava em fevereiro 188 mortes e cerca de 16 mil desabrigados por conta de chuvas torrenciais. Um relatório da FAO ressaltava que o país havia sofrido "graves danos nas culturas de café, cacau, banana, cana-de-açúcar e nas criações de camarão."
  • Em março, o Peru já contabilizava 200 mortes e 260 mil desabrigados por conta das inundações. Cerca de 50 mil hectares de plantações estavam perdidas, e aproximadamente 20 mil casas haviam sido destruídas
  • O prefeito de Assunção, capital do Paraguai, declarou estado de emergência na cidade em razão das chuvas intensas; em março havia 20 mil desabrigados.
  • No Brasil, o estado do Amazonas experimentava a maior estiagem em 34 anos, e os lagos antes piscosos da região eram apenas manchas de água quente amarelada; o Rio Negro estava 25 metros abaixo do nível normal e no rio Andirá surgiu uma ilha desconhecida. Em Roraima, o governador decretou estado de calamidade pública por tempo indeterminado em razão da maior seca dos últimos 15 anos; na capital, Boa Vista, um lago natural com 100 milhões de litros de água secou inteiramente. O Rio de Janeiro registrava 42 graus em pleno inverno (a mais alta temperatura desde 1922), Porto Alegre 33,3 graus (a maior marca desde 1955) e Teresina também 42 graus (temperatura mais elevada desde 1957). Ainda no Rio de Janeiro, as ressacas do mar eliminaram longas faixas de areia das praias e destruíram calçamentos, e a ponte Rio-Niterói foi literalmente balançada por um vento de 124 km/h.
  • No Oriente Médio nevou. Jerusalém ficou coberta com uma camada de 50 cm de neve, e podia-se ver flocos de neve sobre as folhas das palmeiras.
  • Na Argentina, 5 milhões de hectares de terras ficaram sob as águas, conseqüência de inundações gigantescas.

O El Niño também foi responsabilizado pelas intensidades excepcionais do tufão Winnie, que matou 200 pessoas nas Filipinas, China e Taiwan, e do furacão Pauline, que deixou 450 mortos no México. Vários países da Europa foram atingidos simultaneamente por tempestades violentíssimas, em particular a França, a Inglaterra e a Espanha. Em determinadas localidades costeiras da França, o serviço de meteorologia chegou a prever ondas de 10 metros de altura e rajadas de vento de 180 km/h.
Ainda em janeiro de 1998, cerca de 4 milhões de canadenses e norte-americanos ficaram sem energia elétrica por conta das maiores tempestades de neve e granizo já vistas naquela região do planeta. Pelo menos 17 pessoas morreram. O apresentador de um canal de TV canadense declarou o seguinte durante a cobertura da tragédia: "Não sabemos se as velas que estamos comprando vão servir para iluminar nossas casas ou para dedicar aos santos, para que termine o pesadelo." O Departamento de Seguros do Canadá informava que a tormenta poderia se transformar no desastre natural mais caro da história da indústria, com prejuízos da ordem de US$ 350 milhões.
Apesar de vários institutos meteorológicos americanos confirmarem que aquelas haviam sido as piores tormentas já registradas na região, o apaziguante Serviço de Meteorologia dos Estados Unidos garantia que se tratava apenas de uma "anormalidade normal". Vê-se que o contingente de apaziguadores não perde nenhuma oportunidade para manter a humanidade afundada no seu sono de chumbo...
A humanidade de hoje assemelha-se a uma folha seca na tempestade. Completamente dissociada da natureza, contando apenas com as limitadas capacitações do seu intelecto restrito, ela procura desesperadamente entender o que ocorre à sua volta. Quer em tudo encontrar apenas uma causa física definida, palpável e visível, para, pelo menos, tentar prever novos acontecimentos.
Secas inclementes também se estendem por toda a parte. Atualmente, mais de 230 milhões de pessoas de onze países da África e nove do Oriente Médio já sofrem com secas permanentes, enquanto que a situação vai se complicando no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos. Em junho de 1995 cerca de 300 mil cabeças de gado já haviam morrido de sede no México, na pior estiagem registrada em décadas no país. Na China, os lençóis freáticos da capital, Pequim, diminuem dois metros por ano, e um terço dos poços já secaram; em todo o país 80 milhões de pessoas caminham pelo menos um quilômetro para encontrar fontes de água… Uma longa faixa do litoral da Califórnia vive já há anos racionando água.
Pesquisadores da Universidade de East Anglia alertaram que o sul da África está na iminência de enfrentar uma catástrofe sem precedentes, algo como uma seca de cem anos. "O aquecimento global já está atuando na região e hoje deve ser visto com um fato e não uma especulação", advertem. O Dr. Mike Hulme foi categórico: "Agora, em vez de ter de provar que uma mudança climática está acontecendo, os céticos têm de provar que ela não está ocorrendo." De fato, a Convenção das Nações Unidas contra a Desertificação estima que o fenômeno já atinge 30% da superfície terrestre, ameaçando a subsistência de um bilhão de pessoas em cem países.
Em outubro de 1997, uma centena de representantes de países reuniram-se em Roma na "Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação". De acordo com os dados apresentados, as secas foram a causa de 74 mil mortes no ano de 1996...
Mas voltemos às demais conclusões do IPCC sobre as mudanças climáticas, às quais complementei com informações sobre alguns fenômenos que têm sido observados ultimamente. No capítulo referente às variações observadas, pode-se ler as seguintes passagens, bastante elucidativas:
6. As análises indicam que durante a última década as médias mundiais das temperaturas sobre o solo têm sido maiores do que nas restantes décadas, durante os últimos 100 a 140 anos.
7. Desde a segunda metade do século XIX produziu-se uma redução substancial, ainda que descontínua, das geleiras de montanhas em nível praticamente mundial. 8. Considera-se que a seca norte-americana de 1988 foi, em parte, uma resposta às persistentes anomalias positivas tropicais da temperatura marítima superficial a oeste do México, assim como às anomalias de resfriamento na parte norte. (…) Essas anomalias da temperatura marítima superficial podem ser conseqüência de uma causa em escala muito maior [grifo meu].
Para poderem levantar um gráfico com essas anomalias de temperatura, os cientistas se valeram de um número enorme de dados coletados. Uns utilizaram dados referentes a 60 milhões de observações ao longo dos anos; outros, de até 80 milhões de observações.

O gráfico a seguir, originado de todos esses dados, mostra o nível de variação das temperaturas médias globais do ar sobre o solo combinadas com as do ar sobre a superfície do mar, desde o final do século passado até o ano de 1990 (a indicação de nível zero é apenas uma convenção):



É muito nítida a tendência de aumento contínuo da temperatura ao longo dos anos a partir de 1910. O aumento verificado até agora da temperatura média do planeta pode parecer pouco, mas os cientistas sabem que o acréscimo de apenas um grau na temperatura média anual pode significar verões tórridos, invernos enregelantes, chuvas diluvianas e colheitas inteiras perdidas. Se a temperatura média mundial subisse 5ºC teríamos o planeta mais quente dos últimos 100 mil anos. De acordo com uma matéria veiculada pela CNN em outubro de 1997, os últimos 15 anos foram os mais quentes desde o século XIV. Por outro lado, acredita-se que durante a última era glacial a temperatura média global era apenas 5ºC mais baixa que a atual. Em relação aos oceanos, supõe-se que se a temperatura média subir 3ºC o número de ciclones duplicará.
Durante o inverno de 1985 na Europa, que foi particularmente intenso, onde parecia que todo o continente estava coberto por uma única placa de gelo, alguns entendidos opinaram que aquilo era um sinal de que uma "nova era glacial" estava a caminho. A Finlândia registrava na época a incrível marca de 50,7ºC negativos, a maior baixa do século no continente até então.
As últimas décadas forneceram recordes sucessivos de temperaturas, tanto baixas como altas.
O ano de 1981 foi considerado o mais quente dos últimos cem anos, mas 1983 foi mais quente que 1981 e 1987 foi mais quente que 1983. Então chegou o ano de 1988...
Em 1988, os Estados Unidos registraram a maior seca desde 1930. No sul do país o calor não deixava o algodão crescer, enquanto que no meio-oeste a seca matava o trigo, o milho, o sorgo e a soja. O rio Mississipi ficou com o nível de água tão baixo que milhares de barcaças encalharam, e surgiram muitas antigas embarcações que haviam afundado. No dia 23 de junho, a temperatura no centro de Washington era de 43ºC. Em 30 de agosto, o The Wall Street Journal informava que no Estado de Iowa algumas cidadezinhas simplesmente "fecharam" por causa do calor. No final do ano, ao invés de escolher um "Homem do Ano", a revista Time escolheu a Terra como o "Planeta do Ano".
O inverno de 1996, por sua vez, trouxe recordes de baixas temperaturas na Europa e nos Estados Unidos. Qual foi a explicação dessa vez? Uma "pequena era glacial de vinte anos estaria a caminho", esclareceu um cientista americano.
Naquele ano a onda de frio foi a pior dos últimos trinta anos. Contabilizou-se pelo menos 278 mortes nos Estados Unidos e 262 na Europa. No Estado americano de Minnesota a temperatura chegou a 51,1°C negativos, que, aliada aos ventos, provocou um nível de sensação térmica de inconcebíveis 62°C negativos. A costa atlântica do país foi atingida por uma das maiores nevasca já registradas; foram vistos flocos de neve até em algumas localidades da Flórida. Nada menos que 25 Estados americanos registraram recordes absolutos de baixas temperaturas. (Obs.: A nevasca de março de 1993 foi mais trágica em relação ao número de vítimas: 500 mortos.) A Romênia viu os termômetros caírem até 37°C negativos. O lago onde fica situada a cidade italiana de Veneza congelou. Na costa croata do Adriático, região de clima ameno, as palmeiras da avenida beira-mar da cidade de Split ficaram cobertas de neve. Em Bonn, Alemanha, os coveiros tiveram de usar britadeiras para abrir sepulturas sob uma temperatura de 25°C negativos... No final do ano, 59 pessoas haviam morrido de frio no México — um país tropical — vítimas de temperaturas de até 10°C negativos.
Ainda mais impressionante que o intenso frio localizado de 1996, foi a elevação das temperaturas em todo o mundo de uma maneira geral na década de 90 e os efeitos decorrentes, suplantando em muito os decorrentes dos tórridos anos do final da década de 80. O ano de 1990 fora considerado (até então) simplesmente como "o ano mais quente já registrado". Em março daquele ano, por exemplo, a temperatura média em toda a Sibéria foi de inéditos e inexplicáveis 10 graus acima de qualquer valor já registrado na região durante aquele mês.
Em 12 de janeiro de 1995, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, órgão do Serviço Nacional de Temperatura dos EUA, divulgou o seu relatório anual sobre o clima. Nele se demonstrava que as temperaturas globais observadas entre março e dezembro de 1994 haviam sido as mais altas registradas desde 1951. Meteorologistas do Centro Hadley também confirmaram que 1994 era o "ano mais quente já registrado", retirando o título de 1990. Em junho de 1994 pelo menos 350 pessoas morreram na Índia, 168 em dois dias, vítimas de uma onda de calor que chegou a atingir 49°C, a mais alta temperatura dos últimos 102 anos. Muitos animais morreram, poços secaram e as redes telefônica e elétrica ficaram danificadas.
O recorde absoluto de alta temperatura mundial em 1994 durou apenas até o ano seguinte, findo o qual se constatou que a temperatura média global de 1995 havia sido ainda mais alta, novamente "a maior já registrada" desde que se começou a fazer esse tipo de levantamento, em 1861. Em 1995, mais de 550 pessoas morreram na Índia, vítimas de uma outra onda de calor, uma das mais longas que já atingiram o país.
O ano de 1995 conseguiu manter seu recorde escaldante somente até 1997, que angariou para si o epíteto de "ano mais quente já registrado". Este fato não impediu que a Ucrânia registrasse o frio recorde de 35 graus negativos, que Moscou experimentasse 28,8 graus negativos (a temperatura mais baixa em cem anos), que 50 pessoas morressem de frio na Europa e que uma nevasca atingisse o México (a primeira de que se tem notícia) e causasse a morte de 20 pessoas, deixando Guadalajara sob uma capa de 40 cm de neve e fazendo a temperatura cair para 24 graus negativos em algumas regiões. Pode-se imaginar o sofrimento e perplexidade dos mexicanos ao enfrentar um frio desta magnitude, eles que sempre só contavam com os seus sombreros para protegê-los do Sol.
Mas já em 1995 as oscilações climáticas haviam sido absolutamente inusitadas, tanto no tempo como no espaço. Enquanto o Brasil experimentava em agosto um dos invernos mais quentes de que já se teve notícia (incluindo-se as regiões Sul e Sudeste), o frio matava 14 pessoas no nosso vizinho do sul, a Argentina. Em Mar del Plata nevava pela segunda vez em 50 anos. O Chile experimentava o inverno mais rigoroso dos últimos 40 anos (28 graus negativos em algumas regiões).
Nos Estados Unidos, 752 pessoas morreram de hipertermia até meados de julho de 1995, vítimas da maior onda de calor do século. O calor esteve associado a níveis elevadíssimos de umidade, o que agiu dificultando a transpiração e potencializando os efeitos danosos do calor sobre o corpo. Em Chicago, considerada uma das cidades mais frias do país, a temperatura variou de 40ºC a 50ºC e a umidade ficou em torno de 90%, um índice comparável ao das regiões amazônicas, onde chove todos os dias. Além disso, no que foi chamado de "uma estranha situação atmosférica", uma frente quente estacionada ao norte da cidade barrou os ventos que comumente sopravam dos lagos da região naquela época do ano, amenizando o calor. Centenas de pessoas morreram em Chicago, vítimas das altas temperaturas. O Dr. Edmund Donoghue, médico que atendeu muitas das vítimas, comentou na época: "Nunca vi algo assim em toda a minha vida; não paramos de receber corpos para autópsia."
Além dos Estados Unidos, a terrível onda de calor global de 1995 castigou também a Europa, Índia e alguns países asiáticos. O Instituto de Meteorologia de Londres afirmou que essa onda de calor mundial foi a responsável pelas enchentes na China, que mataram mais de mil pessoas. Na Espanha a onda de calor matou pelo menos 33 pessoas; na França morreram três pessoas em Paris, onde a temperatura atingiu a inacreditável marca de 44,4ºC; em Portugal, o forte calor provocou incêndios que destruíram milhares de hectares de vegetação; na Grécia, grandes incêndios causados pelo calor forçaram a evacuação de centenas de pessoas das localidades ameaçadas; no Reino Unido morreram cinco pessoas numa semana; no Japão também morreram cinco pessoas em decorrência da "maior onda de calor em mais de cem anos."
Poucos meses depois desses acontecimentos, em dezembro de 1995, pelo menos 15 pessoas morriam em conseqüência de uma fortíssima onda de frio que tomou conta dos Estados Unidos. Em Nova York a temperatura chegou naquele mês a 35 graus negativos, enquanto que a até então pior nevasca dos últimos 70 anos deixava paralisadas grandes extensões da costa leste. No início de 1996, 25 dos 50 Estados norte-americanos registravam recordes de frio. Em Wisconsin, a temperatura chegou a 31 graus centígrados negativos, a mais baixa dos últimos 103 anos.
No Reino Unido a situação de alternância de temperaturas extremas também se repetiu. Cinco pessoas morreram em agosto de 1995, vítimas do calor. Quatro meses depois doze pessoas morreram em virtude do frio intenso. Em Glascow, na Escócia, a temperatura atingiu 18 graus negativos, a mais baixa dos últimos 55 anos…
Após o anúncio de que 1997 fora "o ano mais quente até hoje registrado", uma onda de frio intenso atingiu Bangladesh, matando pelo menos 85 pessoas.


O gráfico a seguir mostra a variação do nível médio do mar durante os últimos cem anos (a indicação de nível zero é convencional):


As estimativas mais recentes são até mais preocupantes em relação à essa variação. De acordo com um estudo do Fundo Mundial Para a Natureza, publicado em 1997, o nível dos mares subiu neste século entre 10 e 25 cm, em razão do descongelamento das calotas polares. Kevin Jardine, especialista do grupo ambientalista Greenpeace para o clima no Ártico, adota este valor de 25 cm, dos quais 5 cm seriam decorrentes, segundo ele, do encolhimento das geleiras do pólo Norte.
As Ilhas Maldivas, no Pacífico, cujo monte mais alto não supera os três metros, já está sofrendo os efeitos desse aumento contínuo do nível dos oceanos. Os estoques de água doce estão sendo contaminados pela água salgada do mar, que sobe sem parar. O presidente de Nauru, uma ilha do Pacífico Sul com altitude máxima de dois metros, já avisou que seu país pode simplesmente desaparecer do mapa.
Na ilha Kilibadji, o nível da água do mar também não para de subir, decorrência do degelo da calota polar. Os coqueiros da ilha estão morrendo. O Sol não consegue atingir os corais, que também acabam morrendo; os peixes que se nutrem dos corais desaparecem, e as aves que se alimentam desses peixes ficam assim condenadas à extinção.
Em Cuba, cientistas informaram que o nível do mar está subindo cerca de 2,9 mm por ano.
Em algumas cidades litorâneas, como Miami, o aqüífero de água doce, de onde se retira a água potável, flutua sobre a água salgada; por isso, existe o temor de que a elevação dos mares empurre o lençol de água doce para cima — em alguns casos, até a superfície. Segundo pesquisa do World Watch Institute, as cidades de Bangcoc, Nova Orleans, Taipei e Veneza já estão enfrentando esse tipo de problema.
A elevação de alguns centímetros do mar não é, pois, insignificante, como pode parecer à primeira vista.
Os oceanos também ajudam a manter o equilíbrio térmico global através das correntes marítimas. A Corrente do Golfo, por exemplo, que se desloca próxima à superfície, leva as águas aquecidas do trópico para o norte. Perto da Groelândia ela se esfria e afunda rapidamente, formando uma corrente fria que se desloca em sentido inverso, próxima ao fundo do oceano, transferindo o frio do Pólo Norte de volta para o equador. Esse efeito é chamado de "bomba oceânica de calor".
Acredita-se que se as correntes marítimas sofrerem alguma alteração poderão causar mudanças substanciais no padrão climático, fazendo com que algumas regiões recebam mais chuvas e outras menos, tornando algumas áreas mais quentes e outras mais frias.
Pois bem, em 1991 o cientista Peter Schlosser, do Observatório Geológico Lamont-Doherty de Colúmbia, Estados Unidos, anunciou que durante a década de 80 um componente básico da bomba oceânica de calor havia desacelerado abrupta e inexplicavelmente em quase 80%, chegando a uma velocidade não muito maior que a de… uma massa de água estagnada. Este componente básico alterado era formado pelas águas do nordeste da Islândia, que de alguma maneira se tornaram menos salgadas e conseqüentemente afundavam com menor rapidez.
Nos oceanos existe também um tipo de oscilação muito difícil de detectar chamada "ondas de Rossby". Essas ondas têm apenas 10 cm de altura e mais de 500 quilômetros de extensão, e são extremamente lentas em seu deslocamento. No entanto, sabe-se que elas têm força para mudar as correntes marítimas e o clima em escala mundial. Existe, inclusive, um estudo demonstrando que elas estariam ligadas às tremendas inundações de 1992 na região central dos Estados Unidos. Por isso, causou grande impacto a descoberta do oceanógrafo americano Dudley Chelton de que as ondas de Rossby estavam deslizando duas vezes mais depressa do que deveriam...
Ninguém ainda tentou montar um gráfico que mostrasse a variação da perplexidade dos cientistas ao longo dos últimos anos, ante todos esses acontecimentos ditos "inexplicáveis"; contudo, esse gráfico, se existisse, teria uma forma muito semelhante aos já apresentados sobre variações de temperatura, crescimento de terremotos, inundações, etc.
Ainda com relação às modificações nos oceanos, já se constatou também perturbações na vida marinha. Uma das mais importantes foi a redução na quantidade de zooplâncton, pequenos animais que constituem a base da cadeia alimentar marinha, e que se alimentam de uma espécie de pastagem chamada fitoplâncton (microalgas que crescem no mar). Num artigo da revista Science, os cientistas Dean Roemmich e John McGowan revelaram que a quantidade de zooplâncton em algumas áreas do Oceano Pacífico, na Califórnia, sofreu uma redução de 80% desde 1951, ao mesmo tempo em que a temperatura das águas subiu 1,5°C.As mudanças climáticas alternam-se em proporções espantosas em todo o planeta, e em espaços de tempo cada vez mais curtos.

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