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domingo, 10 de agosto de 2008

Especial: Biocombustíveis x Alimentos

Será mesmo que o aumento da produção de biocombustíveis vai inflacionar os preços de alimentos ao consumidor? Parece até boato de quem está com inveja da riqueza que está sendo gerada pelo setor, não é mesmo?

m todo caso, a pergunta é oportuna, visto que o aumento do preço de alimentos básicos (como o açúcar, o óleo de soja, verduras e laticínios) pode ser desastroso para a população pobre do planeta.

Para responder a pergunta, é preciso compreender a relação entre biocombustíveis e a formação de preços dos alimentos ao consumidor. Façamos um breve raciocínio lógico.


1. O que os biocombustíveis têm a ver com os alimentos que compramos?

Tudo. A matéria-prima do açúcar refinado, por exemplo, é a mesma cana-de-açúcar utilizada na produção do etanol. Enquanto no Brasil as culturas mais utilizadas para a produção de biocombustível são cana-de-açúçar, soja, palma (dendê) e mamona, nos EUA o alimento utilizado é o milho, com uma produtividade muito menor que as das matérias-primas brasileiras.


2. Aumento da demanda

Nós, consumidores, agora temos que dividir parte destes alimentos com um consumidor voraz: a indústria de biocombustíveis. A demanda por produtos que são usados tanto em biocombustíveis como em alimentos cresceu, e vai crescer cada vez mais. E, segundo a lei da oferta e procura (a mais inexorável das leis do capitalismo), os preços podem subir tanto para um mercado quanto para o outro. Se houver mais demanda de um lado, haverá um preço do outro.

3. Diminuição de outras culturas

Como produzir biocombustíveis virou febre no Brasil, os agricultores têm substituído suas culturas tradicionais (como mamão, laranja, cenoura, batata e outras), para plantar aquelas utilizadas na produção de etanol e biodiesel. Por enquanto, de uma maneira pequena em relação a área plantada. A oferta destes alimentos, portanto, tende a diminuir, enquanto a demanda continuará a mesma. O resultado é o aumento dos preços de alimentos ao consumidor.

4. Aumento indireto de preços

Parte da alimentação dos bovinos, suínos e aves é composta por insumos utilizados na produção de biocombustíveis. Ou seja, pode ficar mais caro alimentar estes animais. E este aumento de custo será repassado aos consumidores - carnes e laticínios podem ficar mais caros.

Ao longo de 2006, o preço internacional do milho (matéria-prima não só da tortilla, mas do etanol nos EUA) subiu 55%. A soja, cuja produção foi reduzida nos EUA para abrir espaço para o milho, teve alta de 13%, segundo o International Food Policy Research Institute (IFPRI).

Na economia brasileira, de 2006 a 2007, alguns alimentos apresentaram elevação dos preços acima do esperado, de acordo com estatísticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O açúcar refinado, por exemplo, ficou 15,74% mais caro no varejo no período. No período do Pró-álcool, a primeira tentativa de usar etanol nos veículos brasileiros ocorrida nos anos 80, houve muita especulação e os usineiros, às vezes, vendiam para os produtores do etanol e, às vezes, para os produtores de açúcar.

Os especialistas já não ignoram mais a existência de uma correlação entre preços de alimentos e aumento da demanda de biocombustíveis. A constatação veio por meio do informe Perspectivas Agrícolas 2007-2016, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), publicado em setembro de 2007.

De acordo com o relatório, a demanda por biocombustíveis em nível mundial vai duplicar em 10 anos. Do lado da oferta, estima-se que até 2016 a União Européia (UE) irá produzir 21 milhões de toneladas de biocombustíveis, ante aos atuais 10 milhões; os EUA irão dobrar sua produção e o Brasil, por sua vez, irá saltar de 21 para 44 bilhões de litros produzidos anualmente. A China, ainda segundo a OCDE, irá expandir sua produção de etanol em cerca de 3,8 bilhões de litros por ano.

Será mesmo que, como todo este movimento de mercado, os preços dos alimentos não serão afetados?

Mocinho ou vilão?

Parece até brincadeira. Os biocombustíveis, até então vistos como uma das alternativas mais viáveis para a substituição dos combustíveis fósseis, agora são bombardeados por críticas, vindas de todos os lados.

Veja abaixo os possíveis problemas gerados pelo crescimento desenfreado do consumo de biocombustíveis e algumas alternativas para isso.

Aumento do preço de alimentos (diretos e indiretos) - O aumento da demanda de plantas para a produção dos biocombustíveis pode elevar os preços (direta e indiretamente) de diversos produtos ao consumidor. As conseqüências, no médio e longo prazos, são nefastas para a população pobre do mundo. Do outro lado, há produtividade diferenciada para várias tipos de biocombustíveis. Alguns dos mais improdutivos são soja e milho, dos mais produtivos, cana-de-açúcar e mamona.

Exclusão social - O modelo de produção de biocombustíveis, baseado em grandes propriedades e na geração de sub-empregos, é considerado socialmente excludente. Do outro lado, se você levado a sério uma política de incentivo ao pequeno agricultor poderia resolver parte do problema.

Aumento do efeito estufa - Estudos científicos publicados em outubro de 2007 comprovaram que, se o processo produtivo for considerado na somatória de emissão de gases do efeito estufa, os biocombustíveis chegam a ser 70% mais nocivos do que combustíveis fósseis, mas isso porque ainda utilizam os combustíveis fósseis para o transporte da produção e, no caso americano, até para a produção de etanol. No Brasil, a produção é feito com o uso do próprio etanol.


Desmatamento de florestas - O aumento da área plantada de cana-de-açúcar poderá pressionar a atual área agropecuária brasileira no sentido da Amazônia e, conseqüentemente, ao desmatamento da floresta.
Um ano após o anúncio do aumento da demanda mundial de biocombustíveis, em 2006, estatísticas apontaram um crescimento no percentual de desmatamento da Amazônia, que há cinco anos seguia tendência de diminuição;

Insuficiência de recursos hidricos - Atualmente a quantidade de água utilizada em todo o mundo na produção de alimentos é da ordem de 7 mil metros cúbicos, de acordo com o Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI). A estimativa é que, até o ano 2050, este consumo praticamente dobre. Nas palavras de Jan Lundqvist, diretor do conselhor da SIWI, "as projeções indicam que a água necessária para produzir biocombustíveis crescerá na mesma proporção que a demanda de água por alimentos, o que representaria a necessidade de 20 a 30 milhões de quilômetros cúbicos em 2050. E isto não é possível".

Alternativas mais eficientes - Um estudo britânico publicado na revista Science demonstrou que as florestas podem absorver de duas a nove vezes mais carbono, em um período de 30 anos, do que as emissões evitadas pelo uso de biocombustíveis.


É importante salientar que parte dessas críticas são também um alerta para que parte do processo de produção do biocombustível, por exemplo, possa ser melhorado para evitar os desastres.

Algumas das possíveis melhoras são:

* A escolha de matérias-primas mais produtivas
* O uso de terras já desmatadas e não cultivadas para o plantio
* A diminuição do combustível fóssil no processo de produção e transporte
* A utilização de pequenos agricultores para a produção de matéria-prima

Fonte: HowStuffWorks

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